Capoeira Mulheres
Desde a Antigüidade, na Grécia, eram poupadas as mulheres qualquer
ligação com áreas relacionadas ao conhecimento e pensamento, já que os
papéis materno e caseiro lhe eram designados. Analisando o contexto
histórico da capoeira, é possível apontar a importância do sexo feminino
no conteúdo cultural e na estruturação da capoeiragem. A partir daí a
participação das mulheres foi tornando-se mais evidente e intensa, porém
acoplada a um sentido estereotipado de masculinidade diante da
marginalização daqueles que praticavam a capoeira. A marginalização
seria uma das razões pela qual as mulheres continuam sendo alvo de
atitudes preconceituosas e que questionam seu potencial e suas
capacidades físicas.
Nestor capoeira (1999) interpreta depoimentos de
mulheres capoeiristas do Grupo Senzala em reunião. As mulheres
capoeiristas presentes nesta reunião levantaram o problema da falta de
documentação sobre a história da mulher na capoeira, a qual, certamente,
contribuiria com pesquisas e estudo a respeito. Porém sabe-se que
durante a época do Brasil Colonial, consta em sua história, mesmo que de
forma pouco precisa, alguns registros de mulheres jogando capoeira. A
República do Quilombo dos Palmares contava com mulheres guerreiras para
sua resistência, e, a repercussão dessas mulheres se nivelou a dos
homens escravos.
"(...) mulheres tão marginalizadas quanto os homens
capoeiristas, assim como toda a cultura e o povo negro daquela
época".(capoeira, 1999, p. 182).
Há fatores que implicam, desde o início, na
participação de mulheres na capoeira. A desunião e competitividade entre
mulheres são mais acentuadas, pois, provavelmente, lhe faltem
maturidade e sensatez ao entender a significância da capoeira e o que
ela representa como esporte e manifestação cultural.
"(...) uma mulher capoeirista deveria ser a
primeira a incentivar outra capoeirista e isto nem sempre ocorria".
(capoeira, 1999, p. 183).
Essa agressividade entre as mulheres que praticam
capoeira provém da herança de gerações que apresentam esse tipo de
relação, porém essa realidade vem mudando através da dedicação das
mulheres. De acordo com capoeira (1999, p. 186) "Várias idéias, antigas e
estereotipadas, caíram por terra. A primeira é que capoeira é coisa ‘só
de homem’. Outro mito que naufragou é que a capoeira masculiniza a
mulher (...)".
São vários os motivos que levam mulheres a praticar
a capoeira, desde a estética, saúde e bem-estar proporcionados até o
rumo profissionalizante e educativo. É interessante observar o quanto a
participação feminina na capoeira em escolas, clubes, academias e outros
locais, tem se tornado mais evidente na quantidade, da qual destacam-se
mulheres qualificadas tecnicamente e profissionalmente.
A princípio, compreende-se que o objetivo da
persistência de algumas mulheres dentro da capoeira é se formarem
profissionais e mestras, porém, devido ao fato de se próprio
subestimarem, elas desacreditam que outras mulheres e, principalmente
homens, treinariam sob sua liderança. Essa carência de apoio podem
partir de seus mestres, do local de trabalho, dos relacionamentos
profissionais e/ou até, das estratégias bloqueadoras da sociedade.
Recentemente, tem se promovido e divulgado muitos
eventos e encontros femininos de capoeira, o que apresenta,
aparentemente uma posição de destaque no meio capoeirístico, mas que na
verdade é um indício de preconceito e exclusão da mulher, de forma que
ela se sobressai isoladamente. Além disso, nos eventos exclusivamente
femininos nota-se uma agressividade maior entre as mulheres. Para melhor
entender, basta trocarmos os papéis: dificilmente, para não dizer
nunca, foi divulgado um evento exclusivamente masculino, com o propósito
de somente homens participarem.
No final do ano de 2002, fiz uma entrevista com uma
profissional de capoeira, praticante há 15 anos aproximadamente, quando
constatei diferenças entre os gêneros referente a postura e
comportamento adotados pelo homem e pela mulher, num sentido
generalizado. Foi colocado em questão a seriedade da mulher com a
prática da capoeira em relação ao homem e através disso, foi possível
afirmar que geralmente os homens se apresentam mais receptivos,
interessados e, até, persistentes diante o aprendizado que a capoeira
tem a oferecer.
Além disso, ao referir-se a promoção de eventos
exclusivamente femininos a nossa entrevistada citou desvantagens que os
encontros femininos as mulheres proporcionam, pois nestes momentos as
mulheres demonstram muitas divergências dentro da roda de capoeira, pois
tornam-se agressivas entre si ao sentirem a necessidade de provar o seu
potencial, e aceitam com dificuldades levar algumas desvantagens
durante um jogo dentro.
Outro fato tão importante quanto os demais em
relação ao desempenho da mulher na capoeira é a interrupção dos
treinamentos, pois podem diminuir a performance da mulher para a
atividade de capoeira. A gravidez pode ser um fator forte neste aspecto,
pois pode haver implicações na performance e se a mulher não tiver
determinação e gosto pela capoeira ela não irá se profissionalizar nesta
área e, nem mesmo, dará continuidade aos seus treinamentos.
Mesmo sendo relativamente menor o número de
profissionais do sexo feminino na atividade de capoeira a mulher tem
ocupado seu espaço e dado a sua parcela de contribuição para a sociedade
e, em especial, para o aprendizado da capoeira.
Abaixo está representada a proporção de homens e
mulheres profissionais em capoeira no estado do Paraná, de acordo com a
Federação Paranaense de capoeira.
Na representação ao lado é evidente a diferença dos índices entre homens
e mulheres profissionais da capoeira e vale ressaltar que, neste
Estado, dentre as mulheres não há mestras, mas há mestres entre os
homens. O que vale é a proporção já mostrada, mas é evidente que deve
ser levado em consideração que a minoria dos profissionais em capoeira
são federados. Talvez isso ocorra porque esta questão envolve
divergências quanto às propostas da Federação; rivalidades entre mestres
e grupos, questões financeiras e a organização de grupos distintos de
capoeira, onde cada um segue uma filosofia diferenciada embasada em suas
tradições.
Para Couto (1999), infelizmente a liberdade de ascensão do sexo feminino
é inibida por questões preconceituosas, apesar das mulheres serem
capazes de apresentarem um alto nível de desenvolvimento dentro da
capoeira sem se igualarem ao sexo masculino.
Carolina Valentim "Pezinho"
Fonte: http://portalcapoeira.com/Capoeira-Mulheres/a-mulher-e-a-capoeira
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